Com muitas lojas
ainda encerradas e outras com estantes praticamente vazias, os comerciantes
portugueses na Venezuela concentram-se agora em inventariar os produtos que
ficam, preocupados com a incógnita do tempo necessário para repor os inventários.
"Desde outubro
que não recebemos mercadoria. Entre novembro e dezembro vendemos praticamente
tudo o que tínhamos e os nossos distribuidores dizem que só em princípios de
fevereiro é que terão novamente produtos para distribuir", explicou um luso-venezuelano
à Agência Lusa.
Pedindo para não
ser identificado, este proprietário de uma loja de roupa em Caracas explicou
que a situação é parecida em lojas de vários tipos, sejam elas de calçado, de
eletrodomésticos, ferragens ou de peças para viaturas, o que levou alguns
comerciantes a encerrar os seus negócios para férias ou a programar para mais
tarde o reinício das atividades.
A situação é
particularmente visível nos grandes centros comerciais de Caracas, onde muitas
lojas têm cartazes dizendo que estão fechadas por férias, mas algumas estão
abertas com as estantes praticamente vazias. Algumas lojas de eletrodomésticos
têm para venda apenas produtos designados localmente de "gama alta",
ou seja, são de luxo e mais caros.
O Conselho Nacional
de Comércio (Consecomércio) apelou ao governo venezuelano para reunir-se com o
setor privado a fim de definir estratégias para a reposição de inventários.
"Insisto em
apelar ao setor público para que se sente com os empresários privados para
poder chegar ao miolo do problema. A reposição de inventários depende das
importações, que pode ocorrer rapidamente se nos chegarem de países próximos,
mas podem demorar entre 75 a 90 dias, se vêm de lugares longínquos como a
China", disse Maurício Tancredi, presidente da Consecomércio.
Aquele responsável
apelou ainda ao governo venezuelano para flexibilizar o sistema de controlo
cambial vigente desde 2003 na Venezuela, que impede a livre obtenção de moeda
estrangeira no país, sublinhando que essa flexibilização permitiria acelerar as
importações e a reposição de inventários.
"Temos que
normalizar o fornecimento de divisas, temos que despenalizar o mercado cambial,
de forma a que os preços sejam equitativos. Os comerciantes estão na disposição
de cooperar se houverem garantias de reposição de produtos e de acesso a
divisas para produzir e importar", disse.
Em novembro último,
o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acusou os empresários venezuelanos
de estarem envolvidos numa "guerra económica" e sabotagem contra o
seu Governo, pelo que mandou as lojas de eletrodomésticos do país a baixarem os
preços, depois de várias inspeções detetarem alegados "aumentos
injustificados".
As inspeções
expandiram-se depois a outros setores, como produtos alimentares, automóveis,
calçado, têxteis, brinquedos e alugueres, com o Governo venezuelano a anunciar
que se prepara para regular os preços e margens de lucro de todos os produtos e
serviços do país.
Milhares de pessoas
acorreram durante vários dias seguidos às lojas, fazendo aumentar as queixas
dos cidadãos de dificuldades em obter alguns produtos essenciais.
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