Na região de Genebra, um grupo de jovens portugueses, entre 16 e 20
anos, recém-convertidos ao Islão, vivem o dilema de participar nas tradições
natalícias das suas famílias cristãs, contrariando a prática da religião que
adotaram.
Para Dawud, 17
anos, é a primeira vez que está confrontado a esta situação. Há cerca de um
ano, escolheu converter-se ao islão depois de seis meses de intensa reflexão e
um período em que estava "sentido".
"Tinha um
amigo muçulmano que na altura não praticava. Ele metia-se muito em drogas e
bebidas. (...) Mas começou a seguir a religião e vi que ele ficou melhor (...)
e começamos a falar e a estudar" disse o jovem estudante à Lusa.
A reflexão foi
longa, mas a mudança foi fácil. "Basta dizer só uma frase (...) e para ser
oficial tens de ir à mesquita" acrescentou. No entanto, no início, a
decisão assustou os seus familiares e amigos. "Mas com o tempo
habituaram-se".
Agora é período de
Natal e por respeito à sua família, Dawud vai estar presente. "Não falei
com o íman acerca disso (...) mas vou estar presente na mesma e também é por
respeito (...) no Islão a família é importante, mas não vou estar a festejar o
Natal", assegurou.
Além dos seus
amigos nascidos muçulmanos, Dawud tem outros, inclusive portugueses,
convertidos ou interessados no Islão. Quase todos eles se comunicam num grupo
de discussão via telefone. Foi assim que ele conheceu outra portuguesa,
Melissa, 16 anos.
Com uma irmã mais
velha já convertida, Melissa está a pensar a tornar-se muçulmana, uma decisão
difícil porque traz muitas responsabilidades, mas o que não a impede de
festejar Natal. "A minha mãe não pode conceber o Natal sem os
filhos", disse.
Como os seus amigos
muçulmanos, Dawud reza cinco vezes por dia e frequenta assiduamente a mesquita
para aprender a ser um bom muçulmano e elevar o seu conhecimento do Corão. Foi
na mesquita que conheceu outros jovens como Hakim, um português de 20 anos que
decidiu seguir a fé muçulmana há cerca de um ano.
"Gostei da
religião. Foi um convertido que falou do Islão. O interesse veio sozinho e,
antes de me converter, pesquisei informações na Internet" disse Hakim.
A escolha de Hakim
não agradou a todos. "Os meus pais sabem. A minha mãe aceitou, mas o meu
pai não. Ele não é crente e diz que sou inconsciente e que é uma perda de tempo
e de dinheiro" acrescentou.
A família de Hakim
está dispersa, mas este português não quer festejar o Natal para não contrariar
os princípios da sua fé. No futuro, disse que gostava "de acabar os
estudos, trabalhar, ter uma família e viver num país islâmico que aplique uma
Sharia (lei islâmica) justa", mas sem especificar qual.
Diallo, de 16 anos,
amigo de Dawud, nasceu numa família muçulmana e é oriundo da Guiné-Conacri.
Viveu em Lisboa dos nove aos 14 anos. Da capital portuguesa disse que guarda
uma boa lembrança e apreciou sobretudo a liberdade de religião.
"Em Portugal,
quando eu ia à mesquita com o meu pai, cada semana havia dois convertidos de
origem portuguesa. (...) para mim não há diferença entre um convertido e um
muçulmano", disse.
Os muçulmanos
representam quase 5% da população suíça, a maioria provém da zona dos Balcãs e
da Turquia.
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